terça-feira, 10 de março de 2009


Edição 176
Antologia da jovem poesia e literatura maranhenses (II)

Data de Publicação: 7 de maio de 2008
Índice Texto Anterior Próximo Texto MAURO CIRO FALCÃOHOJE É DIA DE ESQUECER, JOSÉo mundo não é apenas um byte, cosmo perdidoas crianças são binárias, alma e pensamento— quem quer embarcar para um mundo melhor? Tu, ele, você, quem quer?até Alice voltou para nosso paísBoi Tatá acordou cumadre, o mar pegou fogomesmo que minha alma fosse capturadapor câmeras digitaisnão perderia minhas paixõessou criador de meu ser, sou poesiapercorro mesmo pela wireless de Deussempre me desculpando pelos meus backbones não sou máquina, sou apenas um ser http://www.pronome,substantivo, verboapagão!!!esqueço que sou incapazderrubo as grades de laserpasseio pela LAN com meu cachorro matreirosem firewalls e militaresvou esquecer que sou gentesentar e contar estrelaspara ver meu amor sorrir mais uma vez, te amoem pouco tempo virei-me para dormir...(Grupo Carranca, 2005)ESTEPEdespercebida, a velocidade gira em torno de nósgato, cansado, dorme no jacaréchave-de-roda sentido anti-horáriomeninas flertam bobagenso calibrador da vida foge das mãos(Grupo Carranca, 2005)JOSOALDO LIMA REGONAVE-GANTESo argicidaanunciado na vacância tênue das mãos de anticléiareverberou olhos após o simulacro e o rumor de uma imagemf r a t u r a d acego, no archote seco da língua contra o mar“só bebe com os olhos, só com os olhos come”libações no pó da manhãsol sob os pés, como águia eremitacarregando procela grave e vaticínio;os homens desolados no alarido de uma rocha inaudível(Grupo Carranca, 2005)HAGAMENON DE JESUSÀS VEZES, O QUE SOU POEMA...Às vezesem mimeste poema é só ausênciaé quando sousóno individual discursoazul metálicoou vermelhoou cinza prateadodo meu sistema.às vezes(ah minhas crianças de batons cintilantes, amigas minhas ou do monza!)às vezes,em si,o que sou poema,se extravia em chaves, menina,é só ausência...(The Problem e/ou poemas da transição, Edição do Autor, 2002)PELOS VIDROS DAS JANELAS INTRANQÜILAS,PRECEVai amanhecer. Todas as pessoas (as outras)estão dormindo.Um poeta acorda seus olhos, com elese nossas ansiedadesaguarda a enchente dos ônibus da manhã.(Há momentos de tanta poesia,que não se consegue escrever)“O que se pôde carregar nos ombros da esperança?”Ainda era algas a noite, naquele momentoquando lhe falaramsobre pontes e eternidade,que as pombas são como a esperança,e que não se sentarão sobre as segundas-feiras.Há momentos em que tudo o que se precisaé confessar, quem sabe.Em retalhos os passos do que lhe foi permitido,na realidade de quem conhece as leise nas suas usuais certezas de vôos espaciaise pasmo,anda. E todo o andar é reticente,do que sabe o quanto tudo é certoe, é por isso, impreciso.Os seus olhos são antigos, como um relógio,e o seu relógio, que é comoseus olhos (antigos), não possui mostradores luminosos.A penumbra... e estas incertezas contínuas...“No final, nunca se sabe mesmo que horas são!”O tempo (não se engana)sempre foi uma estranha criatura da McDonald’s,o tempo sempre foiuma estranha e vertiginosa criaturaque canta pneuse devoraa cada momento a nossa eternidade.“É por isso que temoser o que sou”, ser todo como um animaldo dia. Ser como um animal do dia é ser todo o amianto...Do metal, os metais. O Metal.“A porra para estas metáforas alegóricas!”O fatoé que agora o silêncio já se foi...Aperta o pause no vídeo(e não soube bem por que).O homem e sua perplexidade,a perplexidade, e o homempor trás dos vidros das janelasintranqüilasergue-se para si, o homem,e está acordado:homem e deus de tudo que hesita.Mas fiquem tranqüilos,nem todos estão dormindo...(Uma alface nascepara a alegria, pelo menos biológica, do pobre)Há momentos de tanta poesiaque não se consegue escrever.(The Problem e/ou poemas da transição, Edição do Autor, 2002)PERDANão se perdeo Solque se esconde a cada dianão se perde.O vôodo pássaro, desconhecido,de gaivotaandorinha: intenção sem rastros,não se perde,não se perdeuma só que seja das andorinhas.Não se perdeo frutoda goiabao fruto (mesmo se está bichado) da goiaba.Na Natureza,a sua transformação,nadase perde, em verdade,nem os nossos ossos sem história.Perdasó podem ser os nossos sonhos,só podem ser os nossos desejosindefesosmais que o cair da tardemais que o cair da tarde.(The Problem e/ou poemas da transição, Edição do Autor, 2002)GERALDO IENSENNÃO HÁ UMA ORDEMnão há uma ordemsomente um zelo purointerceder de ventos, chuvas e morteandarcomo travis de win wenderscomo a foto de robert frankcomo jack kerouacmorrendo de pneumoniacomo trensabandonados nas estaçõesextenuadas amantes dos que não param(Coletânea Poética dos Festivais Maranhenses de Poesia Falada, DAC, 2000)NILSON CAMPOSF.FWDNo triz do gozomúsculo é crepúsculoonde lasciva salivavacila entre laivosde siderais coisasvéspera de quandoombroéescombro(Revista Anual Sociedade Cultural Grupo Carranca, 2000)JORGEANA BRAGARespira fundoVê a lua vazando?Aspirada pelo sopro do dia,Inalada como ópio,E nossos corpos sobrevoados porAnjos matutinosCheios de incensosO tarot exposto em leque na mesaAo lado, a imperatriz de mãos dadasCom a sacerdotisa loucamente vestida...Teu rosto não é estranho mas nemFalo de séculos atrás. Porque em meioÀ bebedeira percebi-me enevoada peloDesvario e vi bem dentro de ti e do teu sorrisoAlguma coisa santa;Teu sorriso é feito de abelhas.(Revista Anual Sociedade Cultural Grupo Carranca, 2000) CÉSAR WILLIAM HIATO do abismo a boca é farta /lâminas saltam em cápsulas de gritos/ ferindo a própria fala/do abismo a boca é aço/suportando todas as línguas/parindo todas as palavras(Revista Anual Sociedade Cultural Grupo Carranca, 2000)VIDRO DO TEMPO os cacos da vida vão cor/tando a minha cara/e o sangue aceso/ vai beijando os olhos da calçada/da madrugada pálida/ de outros eus que empalidecem/desenhando pássaros da verdade/num vôo arriscado sobre a dor/tangidas asas cor/tando o medo/esmiuçando ânsias em ânsias mais ainda.(Coletânea Poética dos Festivais Maranhenses de Poesia Falada, DAC, 2000)RICARDO LEÃOA FILHA DA PUTA(pela Rua da Palma)a GilbertoEu não quero a puta.Quero a filha da puta.A putinha. De seios fartos,lábios e olhos cor de mel,biquinhos róseos,carne alva e trêmulaa luzir na clara escuridãoda noite, pelinhos púbicos(dourados e tépidos)ao suave contato das mãos& língua. Eu queroa filha da puta.Seu corpo (ainda virgeme intocado de carícias)aguarda-me. Deixará,sublime e bela,que a abrace na hora extrema,tímida e cálida. Penetrareicom graça e estilo(ares de déspotaou de sedutor)em sua rubra morada.Deuses entoarão cânticos,príncipes hão de se tornar reis,mulheres abrirão seus ventres à minha passagem,poetas hão de tornarpalavras ainda mais belas.Ela aguarda-me.De dia, de noite,aguarda-me. Tem na pele lúcidamuitos segredosque a boca não revela.Traz no sexo lindo e macioa agonia dos séculos,a angústia, o desespero,a morte e a eternidade.Hei de depositarmeu sêmen vigorosoem sua vulva suculenta,e torná-la pura,tão pura,como o amorque se prolonga,invectivo e lento,dentro, dentroda tarde longa.Eu não quero a puta.Quero a ninfa, a nádegaresplandecente e montanhosa,quero a curva calidoscópicagirando, girando, girandoem um movimentoque é, ao mesmo tempo,renúncia e desesperação.Quero o meu quinhãode luz e êxtase,apertá-la e descobri-laem cima da cama, plena,sob a pele intata do poema.Eu não quero a puta.Quero a filha, a deusaclara e telúrica,eu quero eu queroa filha da puta.(Simetria do Parto, Editora Cone Sul, 2000)MEDITAÇÃO À BEIRA DE UM PRECIPÍCIOA poesia, Fábio, deve ser um girassol.Um fio que se rompe, calma músicaque forja o silêncio no ventre do [eterno.Um desejo simples, inconsútil.Uma cadela, talvez. Uma mulher que [ama,cujo corpo estremece, alvo, no escuro.Um poema que transpõe,absorto e impossível,o tranqüilo interlúdioentre a palavra e o nada.A poesia, Fábio, talvez seja um pássaroque voa.Um fim de tarde, invisível, sem [crepúsculo.Um delírio, um ludíbrio. Um [holocausto.Talvez o desespero. Talvez a morte.A poesia, Fábio, é um girassol.(Simetria do Parto, Editora Cone Sul, 2000)SONETO DA PROCURANão sou quem sou, nem sois o que sois,nem jamais estive de onde vim,ou ainda onde o sol jamais se pôs,ou ainda, ou aonde, ou coisa assim,restará, do que sou, um pó de arroz,restará, quem sabe, nada, enfim?,de tudo que vem antes, ou depois,de tudo que começa e chega ao fim:o mundo dividir-me-á em dois,e há de ser sempre bom, ou ser ruim,o mundo há de ser, desse modo, pois,qualquer coisa entre o não e o sim,como um rangido de carro de bois,como um vácuo entre o eu e o mim.(Simetria do Parto, Editora Cone Sul, 2000)
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